05 abril 2007

QUINTA FEIRA SANTA


UM DEUS DE JOELHOS

Custa-me a suportar que alguém se abaixe,
se humilhe diante de mim:
isso confunde-me porque, imediatamente,
sinto toda a minha pequenez.
prefiro antes dar que receber.
Aceitar o dom gratuito do outro
é também tornar-me devedor ante ele,
e é ainda um recordar a minha fragilidade.

Mas esta tarde, Senhor, tu ajoelhas-te,
humilhas-te diante de mim.
Sem uma palavra, vens lavar-me os pés,
e não apenas os pés mas o coração
e o espírito, a minha vida e a minha pessoa.
e é disto apenas que eu quero viver:
do dom total que me faz de si próprio,
um Deus de Amor, de perdão e de paz
que se ajoelha e se abaixa diante de mim.

Tu dizes: quando fizeres pelos outros
o que acabo de fazer esta tarde por ti,
compreenderás: viver não é
dar o bem pelo bem e o mal pelo mal,
mas partilhar aquilo que recebemos gratuitamente,
por amor, sem cálculos nem reservas.
E é de joelhos quando se é maior.

in Caminhos de Pascoa 1995

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